quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Ecos do pensamento



Esses dias tenho aprendido a fazer acontecer. A ser mais direto, objetivo. Não dá pra ir contra a natureza, mas dá pra tentar desviar alguns rios.

Conduzir por exemplo. Os meus gurus da dança me convenceram a não tratar a "dama" (adoro esse termo) como igual; tem de conduzir porque... Porque é assim que é bonito. Não que ela não saiba onde quer ir; é pela sutileza do gesto de levar.

Aí penso se estou conduzindo o que faço todo dia. Acho que comecei. E então fico otimista; "posso estar completamente enganado, posso estar correndo pro lado errado", mas agora parece que meu barco tem leme, mastro e um aprendiz de marinheiro. Só de sentir isso, agora, escrevendo aqui, já vale o dia. E por isso continuo acordado, escrevendo, mesmo sabendo que vou chegar atrasado amanhã se não for dormir logo: pra poder registrar e ler depois.

Tudo isso porque parei pra pensar (faz bem mesmo, Endie - obrigado por teu comentário que eu não soube responder). O que me fez pensar, hoje, foi esse poema:

“O Eco” (Gióia Júnior)

“O que posso fazer se, a vida, a glória fez-ma
rotineira, a ilusão não muda, é sempre a mesma?
Que fazer se o prazer é sempre essa utopia
de um minuto feliz?! A maior alegria
é ligeira e fugaz como uma gargalhada,
… inunda a sala e cessa e volta para o nada? …
Que fazer para ter alguma recompensa?
Mecânico e fatal o eco responde: pensa …

Pensar? Como pensar? Perder a mocidade
no egoísmo sem razão dessa inutilidade…
Pensar apenas? Não, teria acaso um fim,
pensar, pensar, pensar… de mim e para mim?
Esgotar a existência em um plano ilusório,
sozinho usufruir da paz de um escritório?
Quero menosprezar a vida dissoluta…
Mecânico e fatal o eco responde: luta…

Lutar… Por que lutar? … Ver bandeiras ao vento,
tambores e clarins, galões e fardamentos,
ver o sangue a jorrar em vis revoluções,
ver Césares, Pompeus, Felipes, Napoleões? …
Lutar… por que lutar, se essa glória que embriaga
tem o brilho na aurora e no poente se apaga? …
Quero muito mais,quero a brasa que inflama!
Mecânico e fatal o eco responde: ama

Amar… amei a vida e a vida é tão ingrata…
“Traz o pó que alimenta e o micróbio que mata”…
Não, de modo nenhum, permaneço na teima…
“a fogueira que acende é a mesma que nos queima”.
Amar… de que nos vale amar se o amor é vário,
se ao beijo tem sequência as dores do Calvário?
Quero fugir do mundo e procurar a calma…
Mecânico e fatal o eco responde: Alma…

Alma… quando escutei essa palavra, quando
meditei, vi que havia uma força operando
além da compreensão… vi que o meu ódio acerbo
era a minha impotência ante o mando do Verbo.
Quando, porém, notei que a paz aurifulgente
está em nós firmada… algo puro, inerente
ao nosso próprio ser… chama viva e sagrada
que opera no interior sem depender de nada;

Alma… quando notei que em meu corpo carnal
morava um universo, uma essência imortal;
entreguei-me a Jesus e, firmado em seu nome,
na vivificação matei a minha fome…
Pensei… soube pensar em seu reino… lutei
sem medo de derrota ao lado do meu Rei…
Amei os meus irmãos. E agora em mim revive
a encantadora voz do eco bradando: VIVE!”


Quase não encontrava esse texto, mas tá aqui: Lições da Vida, do Amor e Negócios

Vou dormir, que amanhã tem mais.


Imagem: Equilíbrio

2 comentários:

Endie Eloah disse...

Quando a gente descobre que pode escrever o próprio livro, virar as próprias páginas, rasurar (ou passar um liquid paper por cima dos erros), destacar com marcador os trechos importantes... ou seja, como você disse, segurar o leme e comandar o barco é tão humanamente passível de felicidade.

A mesma felicidade que Katy (em seu post sobre "Ser feliz/ Estar triste") disse que muitos não conseguem realizar por acreditarem que só existem momentos (e não uma vida) de felicidade.

Essa máquina, por vezes descontrolada, dá trabalho. Mas o que seria da aventura sem os desafios?

No jogo da vida, muitas vezes o vilão principal de cada fase somos nós mesmos - que nos deixamos levar por uma correnteza turbulenta e agressiva.

Agarre seu leme, seu joystick, seu lápis e não deixe ninguém conduzí-lo. Não é fácil ser você mesmo numa sociedade tão robotizada, mas se a gente acredita, acontece ;)

No máximo, deixe que a viagem tenha marinheiros para ajudá-lo, jogue-se em dupla, tenha personagens amigos - para também não tornar a vida controlável e solitária.

Desse jeito, ninguém merece :)

Unknown disse...

Como tu consegues escrever tão bem? Achei o comentário melhor que o post.

Esse negócio de conduzir dá trabalho mesmo. Prioridades, distrações, certo, errado, tudo ao mesmo tempo. Enfim, a descoberta de que viver é um desafio e tanto. Mas tem seguir em frente, e levantar poeira.

Alguém pra jogar em dupla é muito raro aparecer, eu nem comento.
Meus marinheiros são raros, mas aparecem de vez em quando. Vêm sem hora marcada, mas estão por aí. É quando dá pra pegar umas dicas de direção.