quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Malaise

Tanto tempo. Eu escrevia como terapia e achei que não precisasse mais.

Há uns dias tenho uma ideia criando forma na minha cabeça: eu sou péssimo no que eu faço pra viver. E pior: vivo pra fazer isso.
Dá uma angústia pensar que os últimos dez anos se revelaram um perda de tempo sem tamanho. Como estivador no porto eu estaria trabalhando do mesmo jeito, só que com um sindicato mais forte. Não que uma profissão tenha a ver com a outra, ou que eu ande carregando peso; não consigo enxergar significado durante a execução de todos os procedimentos, tabelas, relatórios e estudos que me pedem pra fazer. Falta paixão.

O que falta mesmo é o prazer de fazer uma tarefa. Não o salário no fim do mês, ou os benefícios da empresa, ou o status que isso me dá, ou a influência que tenho do alto do meu cargo. Falta propósito. Se eu fosse francês, diria que é uma doença social. Diria que vivemos numa sociedade sem propósito. Não estamos construindo nada que não seja essa corrida atrás do vento que é a busca da prosperidade. Não temos ideias nem ideais - nem uma língua descente, depois que aposentaram metade dos acentos.

Eu queria ter a coragem desse pessoal que larga tudo. Queria começar de novo, refazer as escolhas que fiz. Queria me sentir livre. Pensando bem, sempre quis, nunca fui. Quando você cria uma reputação desde cedo, você é prisioneiro dela, até que viva aqueles vinte segundos de coragem que dizem que é o bastante. Mas eu não tenho essa coragem. Tenho alguns compromissos; com o banco, com os meus amores e comigo mesmo. Não nessa ordem.

Vou tentar melhorar amanhã. Boa noite.

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