segunda-feira, 18 de abril de 2011

Terapia

Parece que foi ontem. Raras vezes tive a coragem de dizer as coisas que deviam ser ditas, na hora em que precisavam ser ditas. Nunca marquei posição, porque achava que não era necessário. Mas é. Não marcar posição, assim como não escolher, já é uma posição: a do jarro de flores no canto da sala. Em outras palavras, abdicar de ter uma posição é se deixar ser colocado onde não se chama atenção, em posição de nulidade.
O que me tem deixado triste esses dias é ver o que a minha falta de coragem de dizer o que devia ser dito, de marcar posição, ver o que isso faz com o ambiente em que eu estou. Porque parece que foi ontem? Porque sim. A menina com quem eu falava hoje de manhã ainda era a mesma com quem eu falava todas as manhãs, há 8 anos atrás. Oito anos! E parece que foi ontem. Pra quem entende bem as coisas, não preciso dizer mais nada. Acho que é por isso que eu falo tão pouco: pra mim as pessoas são todas boas entendedoras, e se eu disser um terço da história, der algumas referências, pronto, todo mundo vai entender. Pois não, ninguém entende. Tudo tem que ser dito.
Se eu lhe disser que eu achei ruim ter começado a escrever mais cedo no pré-escolar, você acredita? Pois é, achei. Eles me mudaram de sala, dois anos na frente. Dois! E aí você sabe o que acontece? Você pode ser mais inteligente, pegar as coisas no ar, mas você é mais novo na classe. Não conhece ninguém, nem como as coisas acontecem. Também não gostei de estudar num colégio católico. E franciscano. Eles te ensinam umas coisas estranhas: perdão e coração mole. Justo o que eu não queria ter, e todo mundo acha que eu tenho. E quando todo mundo acha que você é uma coisa, você acaba se tornando essa coisa.
O que eu queria mesmo era ser igual aqueles cowboys mal-encarados do cinema: eles fazem o que é necessário, sem se preocupar com o que os outros pensam. Não consigo nem tentar. Incomoda essa necessidade de aprovação, eu acho. Também acho que preciso de terapia. E nem sei se o plano de saúde da empresa cobre isso. Vou procurar um desses amanhã. Eu sei que não dá pra continuar assim, e quero mudar essa coisa. Só não sei como, nem por onde começar. Daí eu lembrei que escrever ajuda a organizar as ideias, e vim parar aqui.

2 comentários:

Endie Eloah disse...

Post corajoso e muito pertinente, moço!
Compartilho muito desses pensamentos e angústias suas.
Quanto a estudar num colégio católico é muito chato mesmo. Para mim, entretanto, acho que seria pior ter estudado num militar. Acho que exterminaria qualquer tentativa minha de querer ser algo mais.
E quanto à terapia: recomendadíssima, se você a conseguir.
Fiz e parei por conta própria (e do bolso). Mas foi o melhor presente que minha mãe poderia ter me dado.
Faz toda diferença do mundo quando podemos nos conhecer melhor sob a paciência e organização alheia.
Boa sorte na busca! ;)
Bjos!!!

Unknown disse...

Obrigado, Endie!